quarta-feira, 25 de junho de 2008

Carta ao Dr. Alberto Freud

Caro Dr Alberto Freud,

Hoje que eu gostaria de relatar alguns fatos, para que você possa formular um conceito mais preciso sobre a minha personalidade.

Um dia me perguntaram o que um homem precisaria ter para me conquistar. Sem piscar eu respondi que era "senso de humor". Minha tia escutando isso, fez a seguinte observação: "Namora com um palhaço." Acho que dá pra ter uma noção de onde vem as minhas respostas, muitas vezes, ásperas.

Quando adolescente, tentando firmar a minha auto-estima, eu perguntei para minha mãe se eu era bonita. Ela disse que eu era charmosa. Então eu pensei: "Se a minha mãe não me acha bonita, não sei quem vai achar". Recentemente no trabalho eu escutei a mesma opnião de um colega, mas ele acrescentou que o charme é melhor do que a beleza, pois a beleza é passageira e o charme não.

Quando eu era criança, eu não conseguia colecionar papel de carta. Eu não conseguia formar uma "pasta" para trocar com as minhas colegas. Eu achava uma burrice gastar dinheiro para guardar aquele papel tão bonitinho. Eu preferia usá-los nas cartas que eu escrevia para minha prima. Também não conseguia manter um diário, porque eu esquecia de atualizá-lo. Qual era graça de descrever minha rotinha todo dia?? AH! Uma vez eu fiz um diário cifrado, cheio de códigos para ninguem ler. Eu perdi a legenda dos códigos, então nem eu consegui mais entender o que tinha escrito.

Eu também não subia em árvores, devido ao meu peso corporal e a minha falta de coordenação motora. Quando conseguia fazer isso, ficava sempre no primeiro galho, pra queda ser menor. Preferia ficar em baixo, "aparando" os jambos, as goiabas, que meus primos jogavam lá de cima.

Como morei muito tempo com meu irmão e meus pais, de dia brincava de bila e de noite de boneca. Minha mãe dizia: "Karila, isso é brincadeira de menino e não de menina". Eu não gostava de vôlei, preferia o futsal. Fiz meu pai comprar um tênis específico para entrar na seleção feminina do colégio. Nos treinos eu ficava na zaga, enconstada na trave, conversando besteira com a goleira.

"Não Karila, você não pode fazer capoeira. Capoeira não é coisa de mulher". A verdade é que nas apresentações de dança do colégio eu sempre ficava na ultima fila. A fila dos descoordenados. Aquela mais escondida, para que o público não perceba que você tá errando os passes.

Sempre diziam que eu era CDF. Mas eu só sentava na fila de trás, estudava na véspera das provas e geralmente estava arrudiada de meninos. No recreio era com as meninas. Na aula era com os meninos. Era uma das poucas que falava com praticamente todo mundo da sala e também umas das poucas que os meninos respeitavam. Bem, isso continua até hj.

Então diga-me Dr. Alberto, as angustias que me afligem hoje estão enraizadas no meu passado? Eu tenho cura?



2 comentários:

alberto disse...

Não tenho muita certeza das suas angústias. Creio que elas podem até estarem ligadas ao passado, mas são principalmente fruto do que esperamos do futuro.

Tem cura sim. É o que esperamos.

Karila disse...

PÔ PRA QUE EU TO PAGANDO A TERAPIA, SE EU TENHO UM ANALISTA DE GRAÇA???

ei berto... embromou aí, viu?