domingo, 3 de agosto de 2008

No futuro, poderemos ser

Acima de tudo, guarde o seu coração,
pois dele depende toda a sua vida. (Pr 4:23)


Não se pode desprezar o passado de um homem. Cada capítulo da sua história determinou mais ou menos intensamente o desenrolar dos capítulos seguintes. Os amigos, as músicas, os lugares vão embora dando lugar a outros. E por que não dizer a família e o grande amor? Para os que não aceitam, isso é melancolia e dor. Fica a sensação de que o tempo está passando rápido demais. Daqui a pouco, o meu filho já vai nascer. E eu nem sei se amadureci no tempo certo. Quando ele estiver com sete anos, vai achar que todos os pais são iguais, que todos são seguros e os seus são geniais. Aos dez, descobrirá que são ridículos.

Tem músicas que me fazem lembrar meu pai. Recordo os dias de chuva na casa da esquina ou algum domingo com pilhas de LP's ao lado da radiola. As lembranças mais remotas são meio embaçadas mas o que não esqueço é do olhar dele para o passado. Era um olhar triste; quase querendo voltar. Quando falava do passado, não faltavam estórias cômicas. Contava um pouco dos vários momentos políticos por quais o Brasil atravessou, suas dezenas de empregos, os lugares que conheceu e os maus bocados por que passou. Os meus amigos que o conheceram talvez ficaram entediados de conversar com ele por, no mínimo, uma hora. Pego algumas poucas fotos tiradas antes de ele ser pai e tento decifrar aquele olhar. Ele era mais ou menos feliz? Mais ou menos preconceituoso? Mais ou menos responsável? Vaidoso? Honesto? Firme? Bom? Objetivo? Ele certamente melhorou em algumas e piorou em outras. Interessante é aquela passagem do filme "De volta para o futuro" em que o George McFly é chamado de "patinho". O Marty McFly fica indignado com o que vê. Ele não acredita que seu pai - um cidadão respeitado - fosse motivo de chacota no passado. No futuro, poderemos ser menos covardes ou mais belos.

Que haja bastante tempo mas que não sobre.

Fortaleza, 3 de abril de 2008.

2 comentários:

Karila disse...

Meu pai nunca foi um contador de histórias. Suas histórias eu sabia por outros... ...minha avó, minha mãe... ele contava histórias de amigos dele, dos irmãos, mas dele não... E o tempo foi passando e ele foi falando cada vez menos. Até que um dia eu não reconheci mais meu pai. Eu olhava pra ele e via um estranho. E essa foi a última vez...

Renato disse...

Por vários motivos, nós não nos reconheceremos no futuro. Olharemos para as nossas próprias fotos e nos perguntaremos se "éramos" felizes como as fotos parecem mostrar.

Olhando meus antigos boletins da escola, surpreendo-me com aquelas notas. Será que era outra pessoa?